segunda-feira, novembro 16, 2020

MINUTOS PRECIOSOS

No cultivo da terra, em todos os lugares, surge a erva daninha, que alguns chamam de tiririca ou joio imprestável, etc. De fato, é sempre o mato, impedindo a germinação da boa semente. Extensos terrenos permanecem dominados pela relva improdutiva, onde a boa vegetação poderia crescer e produzir bens para todos. A partir daí, iremos  fazer uma analogia e comentar sobre o nosso valioso “capital dos minutos”. Você já pensou o bem que poderemos fazer somente com uma bênção de meia hora? Alguns instantes de leitura e reflexão, poderão nos levar a adquirir novos conhecimentos, novas descobertas. Ou, então, em sessenta minutos, dedicá-los à assistência aos enfermos,  ou um trabalho voluntário em favor do próximo. Com certeza, isso irá produzir prodígios na vitória do bem, com benefícios revertidos para nós mesmos.                                                                                              Porém, há sempre conversas inúteis, fúteis, prejudicando as oportunidades de servir e evoluir. Não devemos esquecer esse “capital dos minutos” se quisermos alcançar a verdadeira fraternidade, empregando o amor e a fé, servindo sempre ao próximo.

Texto inspirado em psicografia de Chico Xavier, no livro “Taça de Luz”.


sexta-feira, outubro 09, 2020

RECOMEÇAR

E chega um momento em nossas vidas que nada mais pode ser do jeito que era. Não mais nos sentimos confortáveis com as situações que estamos vivendo. Tantos pensamentos que nem conseguimos raciocinar direito. É uma angústia inexplicável, um desejo de renovação. Mas por onde começar?

Tudo é desconhecido e não podemos negar que temos receios. Será que teremos forças para seguir e, principalmente, resistir ao mal que nos remete à sensações que já conhecemos e que ainda não sabemos se temos condições de resistir?

São tantas as incertezas que nos paralisam, mas, é sim chegada a hora da transformação. Um novo amanhecer nos aguarda! 

O ontem passou e o hoje é o convite para recomeçarmos. Vamos em frente, com fé e perseverando sempre!

Texto baseado em “Vinde a um Novo Amanhecer”. Publicado pela RG Editores.




terça-feira, julho 21, 2020

A BORBOLETA HELENA.


“Sabe... aquele cheiro delicioso de pastel quentinho?
Eu olhava. As pessoas comiam com prazer. Ela percebeu. Passou sua mão em meus cabelos.
-Filho!...  tenho apenas o trocado para o bonde”
Ela dizia que voava. 
-Você não acredita, ando tão depressa, vou e volto voando.                                          
Podia caminhar, ir onde quisesse.  No posto de saúde, fazer exames médicos, ela sempre soube se cuidar.  
Visitar a Cici, também. 
Passava horas conversando com a amiga Cici. Almoçava, tomava o café da tarde, jantava e dormia no apartamento da Cici. Infelizmente, naquela primavera, a Cici morreu. A vida da Mami também mudou. Ficou um vazio no coração dela. Saudade da Cici... Outono, Inverno, novamente Primavera e a saudade, lentamente, sendo superada.
Malgrado a aparente tranqüilidade, agora, outras dificuldades: as pernas, a visão. Imperava a verdade do tempo que passava. A doença dos ossos se agravando e a impedindo de caminhar. Ela sofria. Ele sofria.
-Mamãe, vou comprar uma bengala, você precisa andar e agora só com bengala.
­-Isso eu não vou usar, não adianta, não me acostumo. - Ela detestava a bengala. Carinhosamente e nervosamente ele tentava convencê-la.
-Mami, você tem que usar a bengala, é para seu bem e se você não andar, vai ficar entrevada e vai acabar numa cadeira de rodas!
Daí em diante ela passou a usar a bengala.
-Agora você tem que sair com a bengala, tem que andar, andar e andar.
-Eu sei... eu sei filho.
Mas era um esforço sobre humano. Tinha dores nos quadris, deformados pela descalcificação. Quantas vezes ele a encontrou no meio da quadra, encostada no muro da casa da vizinha, descansando. Respiração ofegante. Sempre com aquele sorriso meigo que ele ainda hoje vê nas Helenas que encontra pelas esquinas da vida!
_Desculpe senhora! Por favor, por um momento pensei ser uma pessoa querida... 
Afastava-se com os olhos embaçados e aquela forte emoção banhando seu velho rosto. 
-Desculpe, desculpe! Parava para se recompor.
Ela perguntava com orgulho.
-Então estou indo bem, contente com meu progresso?
-Sim, está mamãe, muito bem! Vamos juntos segure-se em mim.
Pouco tempo depois, chegou a cadeira de rodas. “Sim, a maldita cadeira de rodas!” Então, ele a empurrava na cadeira para todo o lado, ele a ajudava nas refeições, na hora de ir para a cama. Ele dava banho na Mami! Sim, ele nunca mais a deixou! Tinha todo o tempo do mundo para ela.
Mas, certa tarde, durante o banho...
-Venha ver uma coisa - ela chamou.
-Sente alguma coisa embaixo do braço, Mami? Dor? Perguntou.
Ela balançou a cabeça, mas uma sombra passou nos olhos dele. Era preciso levá-la ao médico com urgência.
Foram seis meses ou mais de sofrimento, tentando destruir aquele tumor. Radioterapia, Quimioterapia.
O doutor voltou para a sala com uma expressão séria.
-Sinto muito, ela não passa desta noite, disse.
Ficou praticamente mudo, engasgava as palavras. Levou o doutor até a porta com lágrimas nos olhos. Uma noite que ele não mais esquece.
-Mami, como você esta? Sente dor?  -  Ela estava em pele e ossos. Magra, definhando dia a dia.
-Não filho. É pena que eu não possa andar como antes. Eu voava! Sabe... eu voava. Sua voz vinha baixa e a respiração forte.
-Sim, eu sei Mami! Tinha lágrimas nos olhos. Desviou o rosto.

Segurou suas mãos frias, magras. Balançou a cabeça. Saiu para o corredor, depois para o outro quarto. 
Era tarde, ele não dormiu. Podia ouvir a respiração forte. Respiração da morte. Passou-se um tempo infinito. Subitamente, ele se levantou assustado, não ouvia mais nenhum som. Seguiu pelo pequeno corredor iluminado em direção ao banheiro. Agora era um longo corredor, infinito corredor. Sentiu-se perdido no espaço-tempo da sua própria existência.
O quarto na penumbra. A porta aberta, mas ele não entrou. Sentiu medo. Os olhos desviaram-se  para a iluminada parede externa do banheiro. No alto, lá estava: A borboleta Helena!
Com o coração apertado voltou para o quarto.
O sofrimento tinha terminado. O rosto magro. Os cabelos brancos, acariciou-os. Retirou os óculos, ela não ia precisar mais.
Tinha um buraco no estômago e uma dor no peito. Sufocou um soluço. Abaixou a cabeça. 
Quando saiu, a Borboleta Helena tinha desaparecido.
“Mami queria voar”
Ela voara. Sim, ela voou.
Abril, de um certo ano, na solidão de um velho.

Osmar Gomes da Silva - autor de "Rumo ao Paraíso e Outras Histórias".

domingo, abril 26, 2020

DAS PORTAS


Todos nós temos um momento em que a vida nos obriga a escolher entre o caminho mais fácil e aquele que à primeira vista, para muitos, pode trazer dificuldades. Aquela porta escancarada era um convite. Eu, confesso que errei sim, para que me aventurar em tentar transpor uma porta estreita, não queria me dar a esse trabalho. Fazendo uma analogia moral, eu pequei sim. E não foi uma única vez. Mas só eu e ELE sabe quantas vezes. Ou melhor, ELE e as pessoas às quais magoei, machuquei, ofendi. Numa retrospectiva sincera, entendo que mais acertei. Sabem por que? Porque nada foi feito de modo premeditado, planejado com antecedência. Simplesmente aconteceram. Imaturidade, caráter mal formado, sei lá. Pequei sim. Mas, acho que, por reconhecer o mal causado, Deus em sua infinita bondade, há de me perdoar. A porta da perdição é larga, porque as más paixões são numerosas e o caminho do mal é frequentado pela maioria. A da salvação é estreita, porque o homem que quer transpô-la deve fazer grandes esforços para vencer suas más tendências, e poucos a isso se resignam. Tal é o estado da Humanidade porque a Terra, sendo um mundo de expiação e regeneração, o mal nela predomina; quando ela estiver transformada o caminho do bem será o mais frequentado. Não se precipite, assim como fiz. Observe  bem a porta a transpor; se larga, dê meia volta e procure entrar pela estreita. Com certeza, terá dificuldades para atravessá-la mas o que verá, a paz que sentirá, o sentimento do dever cumprido, compensará qualquer esforço.
#sejafeliz