segunda-feira, fevereiro 06, 2017

DE VOLTA AO DIVÃ.

 
Vocês e eu, é claro, já estávamos sentindo falta da Dra. Ana Lisa, a minha psicoterapeuta. É necessário explicar que nem eu nem ela desistimos: eu, da terapia, e ela de me atender.
Simplesmente, as férias de final de ano interromperam temporariamente as consultas. Nessa época, ela vai visitar os parentes que ainda residem em Vacaria, no Rio Grande do Sul (já comentei que ela é nascida nessa cidade). Lá ainda estão remanescentes dos primeiros Lambruscone que imigraram da Itália no século dezenove. Daí o nome da doutora, Ana Lisa Lambruscone.
Dito isto, cá estou de volta ao consultório e percebo que ela também aproveitou para dar uma modernizada no ambiente.
- Está bem melhor agora doutora –comentei, já deitado numa chaise longue mais confortável.
- Obrigada seu Dedé, já não era sem tempo. Um ambiente assim, mais “clean”, facilita psicologicamente a interação. Bem, mas vamos ao que interessa. Fale... como o senhor está se sentindo...
- A bem da verdade, doutora, início de ano, novas perspectivas, seria o ideal para gerar otimismo. -  Respirei fundo e prossegui:
- Infelizmente, tragédias aconteceram e ainda, a crescente onda de intolerância, preconceito,  fanatismo, que tomou conta de grande parte dos chamados "seres humanos", encenaram uma verdadeira tragicomédia nesse imenso palco onde atuamos, trazendo de volta velhos questionamentos: o porquê disso, a razão daquilo. Isso abala e mexe com as emoções de qualquer pessoa, até as mais insensíveis não é mesmo?
- Evidente, seu Dedé. Nossas conversas servem para levar em consideração todos os fatores que entram em jogo em um quadro clínico e sua consequente cura. A analogia feita com uma peça tragicômica, é uma maneira sensata de abordagem, porém, não devemos perder a esperança jamais. - E após uma pequena pausa, disse:
- Mesmo assim, sinto uma sensível melhora no seu modo de encarar as situações, por consequência, no seu quadro psicológico.
O tempo de nossa consulta passou célere e, enquanto ela se levantava da poltrona, comentei satisfeito:
- Obrigado, mas devo isso à sua competência doutora Ana Lisa e, se me permite dizer, nunca um nome esteve tão bem ligado à uma profissão.
-  Então tá, seu Dedé – disse quase sorrindo – até nossa próxima sessão.
-  Até doutora.
Já na rua, caminhando, pensava que o mais interessante é a coincidência não se restringir apenas ao nome... o sobrenome Lambruscone, também indicava que ela não desprezava um bom vinho.

segunda-feira, janeiro 25, 2016

São Paulo - 462.

Dos 462 anos, faço parte da história de SP há 39.
Tempo maior do que o vivido em minha Santos e mais do que suficiente para aprender a amar esta cidade. 
"Entre le deux mon coeur balance". Entre as duas meu coração balança.
Santista de alma e coração e paulistano por adoção, devo tudo que consegui em minha vida profissional, a São Paulo que, com mais de 11 milhões de habitantes, a todos acolhe e oferece oportunidades.
Obrigado e parabéns São Paulo!

segunda-feira, novembro 23, 2015

VONTADE SUPREMA.

Li, em algum lugar, que aceitar-se como você é, estar em paz consigo mesmo e encontrar realização na sua vida, são prioridades para todos nós.  Verdade.
Mas, estar aberto a mudanças, significa simplesmente que estamos prontos para receber novas oportunidades em nossas vidas. Devemos e podemos sentir um desejo de mudança e pedir a Deus por isso.
Aí duas coisas podem acontecer. ELE pode responder oferecendo a mudança que desejamos, ou então, nos dando a capacidade de aceitar o que ELE tem reservado para nós. 
“Seja feita a Tua vontade” é o que não podemos deixar de dizer.

terça-feira, janeiro 27, 2015

AUTOAJUDA.


Já fazia uns três ou quatro minutos que eu estava deitado naquele conhecido divã na sala de minha terapeuta, a Dra. Ana Lisa. O silêncio era tanto que dava até pra ouvir o tic-tac monótono do relógio, colocado estrategicamente na parede lateral esquerda de onde ela podia, sem esforço, acompanhar o tempo da consulta. Aquele som, o som do silêncio, sempre precedia o início de nossas conversas.
- Sabe doutora, quando vinha pra cá minha cabeça estava cheia de assuntos, tantas novidades desde o nosso último encontro e, de repente, parece que tudo se foi, esqueci ou está travado, não encontro as palavras.
Disse isso e fiquei no aguardo que ela comentasse alguma coisa, mas nada. Silêncio.   Continuei:
- Bem, já que preciso falar...  Por exemplo, esse negócio de autoajuda, autoisso, autoaquilo; trazem fórmulas para o ser humano melhorar, progredir e até fazer fortuna. É isso mesmo? 
Silêncio.    Prossegui:
- Trazer melhora financeira só mesmo pra quem escreve, porque a maioria desses livros tem uma vendagem expressiva, tornam-se até best-sellers. - Dei uma esticada nas pernas e continuei:
- Ah... sim, mas o que eu acho mesmo é que deve ser fácil falar, escrever e passar mensagens positivas e daí minha dúvida doutora. Será que todos esses autores realmente exemplificam o que dizem, será que essas pessoas, no cotidiano, agem da forma como ensinam nos livros?
Aí, minha psicoterapeuta não resistiu:
- O seu pensamento tem lógica seu Dedé. Mas também entendo que, só o fato das mensagens desses livros cumprirem o objetivo de provocar, digamos, um choque nas pessoas e elas, a partir daí, tentarem dar um novo enfoque às suas vidas, já tem um mérito... E mais, pode ser que, para o leitor, pouco importa o que o escritor faz ou deixe de fazer.
- Ah, doutora Ana Lisa, seria então alguma coisa parecida com “faça o que eu digo (escrevo) mas não faça o que eu faço?”
- Bingo! Essa é a realidade, é por aí que a humanidade caminha. “Não existe uma regra de ouro que se aplique a todos: todo homem tem que descobrir por si mesmo de que modo específico pode ser salvo”. Sabe quem disse isso, seu Dedé?
- Não.
- Pois é, ninguém menos do que Sigmund Freud.
Ora – concluí - se o “pai da psicanálise” assim falou, minha conversa com a doutora, por hoje está terminada, nada mais precisa ser dito.
Levantei ligeiro e saí sem ao menos fechar a porta.  .
- Até a próxima – disse ela.
Desta vez, o silêncio foi meu.