terça-feira, janeiro 27, 2015

AUTOAJUDA.


Já fazia uns três ou quatro minutos que eu estava deitado naquele conhecido divã na sala de minha terapeuta, a Dra. Ana Lisa. O silêncio era tanto que dava até pra ouvir o tic-tac monótono do relógio, colocado estrategicamente na parede lateral esquerda de onde ela podia, sem esforço, acompanhar o tempo da consulta. Aquele som, o som do silêncio, sempre precedia o início de nossas conversas.
- Sabe doutora, quando vinha pra cá minha cabeça estava cheia de assuntos, tantas novidades desde o nosso último encontro e, de repente, parece que tudo se foi, esqueci ou está travado, não encontro as palavras.
Disse isso e fiquei no aguardo que ela comentasse alguma coisa, mas nada. Silêncio.   Continuei:
- Bem, já que preciso falar...  Por exemplo, esse negócio de autoajuda, autoisso, autoaquilo; trazem fórmulas para o ser humano melhorar, progredir e até fazer fortuna. É isso mesmo? 
Silêncio.    Prossegui:
- Trazer melhora financeira só mesmo pra quem escreve, porque a maioria desses livros tem uma vendagem expressiva, tornam-se até best-sellers. - Dei uma esticada nas pernas e continuei:
- Ah... sim, mas o que eu acho mesmo é que deve ser fácil falar, escrever e passar mensagens positivas e daí minha dúvida doutora. Será que todos esses autores realmente exemplificam o que dizem, será que essas pessoas, no cotidiano, agem da forma como ensinam nos livros?
Aí, minha psicoterapeuta não resistiu:
- O seu pensamento tem lógica seu Dedé. Mas também entendo que, só o fato das mensagens desses livros cumprirem o objetivo de provocar, digamos, um choque nas pessoas e elas, a partir daí, tentarem dar um novo enfoque às suas vidas, já tem um mérito... E mais, pode ser que, para o leitor, pouco importa o que o escritor faz ou deixe de fazer.
- Ah, doutora Ana Lisa, seria então alguma coisa parecida com “faça o que eu digo (escrevo) mas não faça o que eu faço?”
- Bingo! Essa é a realidade, é por aí que a humanidade caminha. “Não existe uma regra de ouro que se aplique a todos: todo homem tem que descobrir por si mesmo de que modo específico pode ser salvo”. Sabe quem disse isso, seu Dedé?
- Não.
- Pois é, ninguém menos do que Sigmund Freud.
Ora – concluí - se o “pai da psicanálise” assim falou, minha conversa com a doutora, por hoje está terminada, nada mais precisa ser dito.
Levantei ligeiro e saí sem ao menos fechar a porta.  .
- Até a próxima – disse ela.
Desta vez, o silêncio foi meu.


Um comentário:

  1. Pois é seu Dedé...
    Cada cabeça, sua sentença... Muito embora, toda ajuda é bem vinda.
    Dra Ana Lisa tem muito que aprender com você. rsrs
    Um abraço!

    ResponderExcluir