terça-feira, janeiro 05, 2010

Assim falou Agostinho.
Nos ensinam os dicionários que orador é aquele que ora ou discursa em público e como discurso não é o nosso tema, isto me induziu a trazer para juntos compartilharmos, as palavras de um ser humano que um dia encontrou a iluminação espiritual. Um filósofo, orador, um pagão, um pecador que por Graça Divina se converteu.
É dele, esta exegese sobre a Oração: “Só no recolhimento de uma vida oculta é que podemos gozar e amar a beatitude da verdadeira felicidade. No recolhimento, sobrevém aquela alegria genuína e profunda que nada tem com aquilo que geralmente se chama alegria. Bondade, amor, piedade, inocência do coração, modéstia, domínio sobre ti mesmo – são coisas que deves possuir sempre: na vida pública e na solidão; no meio dos homens e a sós contigo em casa; na conversa e no silêncio; no trabalho e no repouso. Sempre deves conservar estas coisas – e tudo isto está no teu interior. Entra no teu íntimo! Não vás para fora – entra em ti mesmo! No homem interior é que habita a verdade.
No recesso da Alma racional, bem no homem interior, aí é que deves procurar e implorar a Deus. É ali que Ele quis habitar. Os homens clamam – Ele, porém, ensina no silêncio. Os homens falam com palavras – Ele, porém, fala com pensamentos de discreto mistério. Fala ao espírito do homem, não exteriormente pelo ouvido e pela vista, mas interiormente pelo coração. Não é com palavras, não é com letras que a Verdade costuma falar. Aos corações atentos, ela fala no interior, ensinando sem ruído, iluminando com a Luz do Espírito. A oração é um clamor da Alma e não da voz ou dos lábios. É no íntimo que soa este clamor – e Deus o ouve.
Quantos são os que clamam com a voz - e são mudos no coração! Falar muito na oração é lembrar desnecessariamente o necessário – ao passo que orar muito é bater, com o Espírito perenemente piedoso, à porta daquele ao qual oramos. E isto se faz antes suspirando do que discursando, antes chorando do que falando. Muito amor, não muitas palavras – seja esta a tua oração!”

Palavras de Agostinho, nascido em Tegaste, norte da África, na atual Argélia, em 354 e que a Igreja Católica santificou, como Santo Agostinho. Converteu-se cristão aos 32 anos. Tornou-se monge, sacerdote, bispo. Morreu aos 76 anos, em Hipona, também na atual Argélia.

2 comentários:

  1. Então seu Dedé...
    Tenho em Agostinho um dos referenciais de minha conduta cristã.
    Santos são aqueles separados pelo Senhor para exemplo e serviço aos que carecem da Santa Palavra no coração, pois é ali que Ele habita.Assim como eu, você e tantos que nos leem.

    Parabéns pela postagem e que esta possa atingir muitos corações levando-os ao centro da vontade de Deus e desta forma tornando-os participantes da Sua santidade.

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  2. Anselmo disse...
    Agostinho nos remete a um dos mais sublimes ensinamentos, o de oração por meio de introspecção, ou oração com o coração, cingindo os lábios e impedindo que, por vezes, palavras desnecessárias sejam proferidas, falando muito mais com a pureza dos sentimentos, esta é a forma ensinada com muita propriedade. Mas traçando um paralelo ainda com a palavra “orador” percebemos que este método é o caminho para a purificação pessoal, impedindo a disseminação destes conhecimentos. Daí então a necessidade do Orador esclarecido e pronto para ser o multiplicador dos ensinamentos com a profundidade necessária. O Orador passa a ser então o instrumento que liga o divino ao que não é divino, sendo parte imprescindível no processo evolutivo como Agostinho foi a sua época, e tantos outros com maior ou menor intensidade. Desta forma, a necessidade de se encontrar na sociedade um ser de ligação é tão imperiosa que a busca acaba sendo cotidiana. Então só me resta dizer: ainda bem que temos a oportunidade de encontrar pessoas que nos brindam com ensinamentos profundos como este. Por este motivo você sempre será para mim um valoroso Orador.
    Anselmo

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