sexta-feira, abril 29, 2022

DE VOLTA AO DIVÃ

__ Pois é doutora, a vida do homem está cada vez mais repleta de conflitos. Alguns criados por ele mesmo, outros que vêm a reboque de doenças, situação econômica, etc..
Depois de algum tempo, assim eu iniciava minha conversa com a doutora Ana Lisa, minha terapeuta. Lá estava eu, acomodado no divã do consultório, com a cabeça divagando sobre os momentos atuais e  comentando os efeitos que eles provocam em todos nós. 
E ela retrucou:
_De uma parte, concordo com o senhor, seo Dedé, mas é nosso dever aprender a conviver com esses conflitos, seja a vivenciar e a enfrentar os acasos, ou recorrer à medicina para obter uma melhor qualidade de vida. 
_É uma escolha por vezes difícil - respondi - e prossegui: nosso cotidiano está repleto de desencontros, discussões, brigas, desavenças entre os casais, muitas delas provocadas pelo isolamento que nos trouxe essa pandemia...
_ Sem dúvida, seo Dedé, até que agora o movimento arrefeceu, mas eu mesma não estava dando conta dos inúmeros pacientes que me procuraram, seja presencialmente ou por vídeoconferência.
Já mais tranquilo, disse: 
_Veja, a senhora mesma fala em duas opções. Tirante a segunda que, por certo, foi a mais procurada, não consigo vislumbrar um outro caminho que não seja tentar nos adaptarmos a esses novos tempos, buscar o caminho da conversa, da razão, do mútuo entendimento, evitando sempre as desavenças, a violência, seja por ideais políticos, nos relacionamentos pessoais ou nas amizades.  .
_Sem dúvida - ela me interrompeu - e completou: Essa violência nos desumaniza, o ser humano está dando preferência à discórdia, ao enfrentamento; uma situação muito abrangente, porque chegamos a um ponto de não conseguirmos medir o efeito negativo das palavras que, quase sempre, leva a um enfrentamento quase que irracional.
Sem que eu tivesse tempo de procurar alguma reação, ela prosseguiu:
_ No campo médico, convivemos e enfrentamos uma pandemia; quando tudo indicava que voltaríamos à uma aparente normalidade, eclode um conflito, uma guerra, trazendo mortes, dor, desesperança ao futuro para a humanidade.
Percebi, então, que era exatamente esse problema que me trouxera àquele incômodo divã... A busca de uma explicação, uma consolação, uma visão mais otimista.
_E há, seu Dedé, uma possível explicação, uma solução - acrescentou, finalizando
_  Acreditar na eficácia e praticar o diálogo em todos os conflitos, sejam pessoais ou entre as nações, não dando força a procedimentos irracionais, que não deveriam ser incorporados por nós, os  chamados "seres humanos". Nossa escolha, nosso objetivo é viver em paz, nos libertando e abrindo portas ao diálogo e à negociação. É isso ou isso, certo?
Acenei com a cabeça, fui me erguendo do divã e, agradecendo à paciência e às convincentes palavras da doutora, me despedi marcando um novo encontro para breve.  

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