domingo, novembro 05, 2017

DE ORADORES E ORAÇÃO.

Nos ensinam os dicionários que orador é aquele que discursa em público, orador sacro é o que faz sermões, um pregador. 
Mas, como discurso e sermão não fazem parte de nossa conversa, isto me induziu a trazer, para juntos compartilharmos, as palavras de alguém que, certo dia, encontrou a iluminação espiritual. Um pagão, filósofo, orador, um pecador, um ser humano, como todos nós imperfeito, que, por Graça Divina, se converteu.
É dele, esta exegese sobre a Oração:


“Só no recolhimento de uma vida oculta é que podemos gozar e amar a beatitude da verdadeira felicidade. 
No recolhimento, sobrevém aquela alegria genuína e profunda que nada tem com aquilo que geralmente se chama alegria. 
Bondade, amor, piedade, inocência do coração, modéstia, domínio sobre ti mesmo – são coisas que deves possuir sempre: na vida pública e na solidão; no meio dos homens e a sós contigo em casa; na conversa e no silêncio; no trabalho e no repouso. Sempre deves conservar estas coisas – e tudo isto está no teu interior. Entra no teu íntimo! Não vás para fora – entra em ti mesmo! No homem interior é que habita a verdade. 
No recesso da Alma racional, bem no homem interior, aí é que deves procurar e implorar a Deus. É ali que ELE quis habitar. 
Os homens clamam – ELE, porém, ensina no silêncio. 
Os homens falam com palavras – ELE, porém, fala com pensamentos de discreto mistério. Fala ao espírito do homem, não exteriormente pelo ouvido e pela vista, mas interiormente pelo coração. 
Não é com palavras, não é com letras que a Verdade costuma falar. Aos corações atentos, ela fala no interior, ensinando sem ruído, iluminando com a Luz do Espírito. A oração é um clamor da Alma e não da voz ou dos lábios. É no íntimo que soa este clamor – e Deus o ouve.
Quantos são os que clamam com a voz - e são mudos no coração! Falar muito na oração é lembrar desnecessariamente o necessário – ao passo que orar muito é bater, com o Espírito perenemente piedoso, à porta daquele ao qual oramos. 
E isto se faz antes suspirando do que discursando, antes chorando do que falando. Muito amor, não muitas palavras – seja esta a tua oração!”
E nada mais precisa ser dito.

Palavras de Agostinho, nascido em Tegaste, norte da África, atual Argélia, em 354 e que a Igreja Católica santificou: Santo Agostinho. Converteu-se cristão aos 32 anos. 
Tornou-se monge, sacerdote, bispo. 
Morreu aos 76 anos, em Hipona, também na atual Argélia.

2 comentários:

  1. Então seu Dedé...
    Ah... O sábio Santo Agostinho.Aquele que define, como nenhum outro, o livre arbítrio, nos dá outra valiosa orientação."Só no recolhimento de uma vida oculta é que podemos gozar e amar a beatitude da verdadeira felicidade".
    Ninguém é ou pode ser transparente o tempo todo. Somente a sua voz interior, vinda diretamente ao coração, conhece seus desejos, suas angústias, seus sonhos e limitações. Somente ela conhece a verdade da alma e suas histórias.
    É coisa pra se pensar...
    Um abraço!

    ResponderExcluir
  2. Grato, "anônimo". Tuas palavras complementam essa postagem de forma brilhante. Abração.

    ResponderExcluir