domingo, outubro 24, 2010

  A TERAPIA DA BOLINHA.


- Mesmo que o senhor não concorde, o jogo democrático está sujeito a esse tipo de ocorrência.
- Doutora, eu sei disso, mas também entendo que não era preciso chegar a esse ponto. A senhora não acha que agindo assim, os candidatos fragilizam a democracia?
-Seu Dedé, a minha opinião, aqui no consultório, não vem ao caso. Nossa conversa deve se manter em nível estritamente profissional.
Pois é, praticamente há uma semana para a votação, fui procurar a Dra. Ana Lisa, minha psicoterapeuta, em busca de algum equilíbrio para cumprir meu dever cívico. Em tempos de bolinhas de papel, bexigas d'água, "do bem" e  "do mal", enfim, de vale tudo na campanha eleitoral, é preciso ter um respaldo psicológico.  
- Certo - inspirei fundo e prossegui - Fiquei um tanto quanto desiludido durante esse período eleitoral. Se, de perto, ainda dá pra ver alguma luz no fim do túnel , de longe, minha visão da política brasileira está  igual à minha miopia, ou seja, não vejo nada, é uma desesperança total.
- Talvez exista aí algum outro componente que provoque essa angústia, esse estado quase depressivo seu Dedé e isso é preocupante porque uma recidiva pode trazer sérias consequências.
- Não doutora Ana Lisa, até onde eu sei está tudo bem no profissional e pessoal.
- Aí é que está o problema. O importante é o que está além do que as pessoas sabem... O imperceptível, na terapia, é  fundamental. Aquilo que está por trás das aparências, no inconsciente.
- Pelo jeito, minhas visitas à senhora vão se tornar mais constantes, é isso?
- Será melhor -ela disse. Concluí, então que estou mesmo fora do chamado ponto de equilíbrio - e completei:
- Bem, então vamos marcar para depois da eleição do segundo turno. Talvez já esteja  me sentindo melhor, mesmo porque  as bolinhas de papel, as bexigas d'água, os "do bem" e "do mal" estarão esquecidos e começarão os preparativos para o Natal e Carnaval... E, cá entre nós, bolinha de papel inesquecível só em música.
- Não entendi - disse ela encerrando nossa consulta.
Levantei do divã, cantarolando:

                                           "Só tenho medo da falseta,
              Mas adoro a Julieta como adoro 
a Papai do Céu
          Quero seu amor minha santinha
                Mas só não quero que me faça de bolinha
de papel... "


"Bolinha de Papel", composição de Geraldo Pereira, em gravação de João Gilberto.
http://www.youtube.com/watch?v=ERIOaHSmO4c

5 comentários:

  1. Então seu Dedé...
    Me permite um "pitaco"?
    Essa história... parece de menino que apanha na rua e vem chorar em casa. Tanto escarcéu por causa de uma bolinha, um rolo de fita, uma bexiga d'água...Sabe o que é isso? Falta absoluta de propostas concretas. Infelizmente essa campanha presidencial está mais parecendo campanha para síndico: "A gente assume e depois vê o que dá pra fazer".Sua angústia é a mesma que a minha e de milhões de brasileiros (claro que os dependentes do Bolsa-família, verdadeiro estelionato eleitoral, não estão entre esses milhões). Anular o voto é se anular como cidadão. O jeito é votar no menos ruim.E pra complicar,para mim, 13 não é um número de sorte.
    Um abraço.

    Ah! Agradeço o presente na voz de João Gilberto.

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  2. Caro Dedé...cadas

    Como você costuma dizer, SENSACIONAL. Direto ao ponto. Como dizem, mata a cobra e mostra o pau. Xi, acho que exagerei. Em época de acusações mútuas devido a bolinhas de papel e bexigas d'água, mostrar o pau pode parecer agressão com violência excessiva. O que eu quis dizer, na verdade, é que você foi cirúrgico na colocação do tema e para que ninguém se perca em dúvidas (nem todos são contemporâneos da música, como nós) disponibilizou o link da prova. Ah, Julieta, já bastam Serra e Dilma. Não venha você também fazer-nos de bobos.

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  3. Oi Dedé.

    Oi Dedé.
    Esta falta de propostas concretas e respostas às perguntas contundentes eles preferem ficar nesta briga de "crianças"
    Se é posso chamá-los de crianças.
    Tenho vergonha do que vejo.
    Mas mesmo assim estou firme e vou votar.
    Ainda tenho esperanças

    Um abraço,

    Vanessa Gomes

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  4. Anselmo disse...
    Em resposta ao caso ventilado me salta a lembrança outra musica: “entre tapas e beijos”, é sempre assim, no momento os tapas são ouvidos ao som dos militantes enfurecidos defendendo seu candidato como se defende a própria vida. Ouvem-se tapas do Chefe Maior do Executivo, dos Presidentes de Partido e dos Candidatos. Ah, os Excelentíssimos Candidatos, os que falam, discursam, atacam, brigam, defendendo suas ideologias como se defende a família. Pena que tudo que se fala não diz respeito algum a família ou à vida do povo, da massa, pois após as eleições voltará o marasmo dos beijos, ou seja, todos se unindo em prol de um único resultado que na maioria das vezes não contempla nem este nem aquele eleitor.
    Abraços
    Anselmo

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  5. É Dedé....que bom seria se os problemas do Brasil se resumissem a “bolinhas de papel e bexigas d’água”

    A troca de acusações ridículas de ambas as partes me faz pensar: é nisso que vou votar? Em dois adolescentes que estão brigando dentro da sala de aula? Em dois incompetentes que fingem não saber o que o brasileiro realmente quer ouvir e quer ver na prática?

    Ah, é duro....sei que um dos dois estará na cadeira principal em poucos meses, mas sinceramente não sinto vontade de alguma de escolher.
    Bjs

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