sexta-feira, novembro 06, 2009

Que lugar é esse?

. Doutora é verdade que cada um de nós tem um lugar onde ficam guardados nossos segredos mais íntimos? - Foi a primeira pergunta que fiz iniciando mais uma sessão com minha psicoterapeuta, a Dra. Ana Lisa, isso depois de ter esperado mais de hora para ser atendido - ela estivera conversando com um paciente um pouquinho mais problemático. - É verdade seu Dedé. Dentro de cada um de nós, há um lugarzinho muito especial, tipo de um bauzinho psíquico com emoções de difícil controle, chamado inconsciente... - Não doutora – interrompi bruscamente – Eu não estou a fim de falar de inconsciente, alma, espírito, atma, ou coisas desse tipo, não. Quero falar, assim no popular, de um lugar abstrato que talvez esteja localizado lá no fundo, no âmago do coração. Seria, talvez, um coração dentro do próprio coração. É lá que eu acho que estão bem guardados nossos medos, frustrações, inseguranças, sonhos não realizados, enfim tudo aquilo que só nós mesmos sabemos. - Bem, já que o senhor não quer conversar sobre isso à luz da psicanálise, vamos em frente, continue. - Pois é, pensei muito sobre isso - prossegui com ar professoral – e entendo que o mais interessante de tudo é que a chave que abre esse nosso cofrinho existencial não está conosco. Quem consegue abrir é uma outra pessoa e nós não sabemos quando esse alguém vai aparecer para girar a chave na fechadura, abrir a porta e deixar explodir, desabrochar em felicidade ou não, tudo o que lá estava depositado como um segredo guardado a sete chaves. - Analisando bem – disse ela - o senhor tem razão, mesmo porque se fôssemos nós, não haveria nada armazenado, simplesmente de tempos em tempos libertaríamos todos esses sentimentos. Fácil, não? - Ela voltou-se para ver as horas no relógio da parede... nosso tempo estava terminando. E logo me ocorreu - enquanto me ajeitava melhor no divã - que agora só faltava ela fazer alguma citação, como era de praxe. - Por sinal seu Dedé, há uma canção portuguesa (Argh! Pelas perucas da Dilma, eu estava certo) - cujo título ilustra bem o tema de hoje: “Nem às paredes confesso” só que no caso que o senhor mencionou a pessoa não confessa nem às paredes e nem a ela própria. Sendo mais clara, há situações, há emoções, as quais nem a nós mesmos conseguimos revelar, não conseguimos fazer eclodir por mais que tentemos daí a necessidade do certo alguém, que pode ser, por exemplo, a psicoterapeuta, certo? Bem, talvez em outra oportunidade, poderemos voltar ao assunto, mas aí sim na visão da psicanálise mesmo - ela concluiu, ao mesmo tempo em que se levantava e se despedia com aquele sorriso enigmático de sempre. - Até a próxima doutora.

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