domingo, outubro 25, 2009

23/10/2009
A resposta nas palavras do poeta.

Não havia se passado uma semana e lá estava eu, na sala de espera de minha psicanalista folheando revistas médicas e aquelas mais antigas que sempre encontramos nos consultórios. Só que no da Dra. Ana Lisa era demais, não sei de onde vinha tanto mofo: a mais nova era “O Cruzeiro” de 1972 (!), entre “Revistas do Rádio”, “Cinelândias” e até almanaques “d’O Pensamento” (talvez relíquias da família). De repente, abre-se a porta e surge a figura indefectível da doutora, com seu vestido branco e aquele olhar enigmático por trás das lentes de contato. - Bom dia, por favor, entre. - E antes que eu pudesse descansar meu corpo exausto naquele já meu conhecido divã, ela adverte: - Pois é seu Dedé - às vezes ela era formal demais - não gostei nada de sua atitude em nossa última sessão. O senhor saiu furtivamente e eu fiquei aqui falando sozinha... - Bom dia Dra. Ana Lisa e perdão, você -querendo retomar a informalidade- tem razão. Eu fui um tanto mal educado, reconheço. Fique tranqüila, não tenho nada contra a terapia, mesmo porque se não fosse você eu estaria entregue aos Anafranil da vida ... mas havia um compromisso profissional inadiável, já estava em cima da hora e... - Certo seu Dedé, mas espero que isso não aconteça mais, afinal o nosso compromisso, ou seja, sua terapia deve ter prioridade. Acomode-se. Ajeitei-me o melhor possível, semicerrei os olhos e aguardei. - Pode falar, põe pra fora, conte-me tudo! – Ela foi incisiva. - São tantas novidades doutora, tantas emoções, tantas idas e vindas que acontecem em nossas vidas, que, às vezes, tenho a impressão de que estamos sendo testados. Sabe, parece que de tempos em tempos somos colocados à prova. É mais ou menos como aquela conversa sobre existencialismo: o que estamos fazendo aqui, por que estamos aqui, minha missão está se realizando a contento? O porquê disso e o porquê daquilo. - Entendo – disse ela – é normal isso acontecer de tempos em tempos. Como dizem atualmente, é a fase, faz parte, mas uma boa tentativa é refletir sobre tudo isso, tentar chegar fundo às origens desses questionamentos. Meditar sobre ... - Mas é isso mesmo que tenho feito doutora – falei, interrompendo bruscamente aquelas recomendações. Nos últimos dias – prossegui – medito, dito a mim, seja lá o que isso quer dizer, buscando encontrar a motivação disso tudo, mas volto sempre à estaca zero. A verdade eu entendo que, sinceramente, nunca saberei. Essa é a única certeza que tenho. - Não seu Dedé, essa certeza não é a única, muitas outras virão com o tempo. E, a propósito, antes de terminar nossa sessão de hoje, - rapidinha ela, não? - acabo de lembrar de certas palavras do genial escritor e poeta português Fernando Pessoa e entendo que essa citação pode ajudar. Ouça e não esqueça: “O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis”. Dito isto, dei um suspiro de alívio, levantei e me despedi, na certeza de que a resposta aos meus “porquês” estava nessas palavras.

Nenhum comentário:

Postar um comentário