sexta-feira, novembro 11, 2011

                                                                            ESCREVA SUA HISTÓRIA
                                                                       
Mesmo sem hora marcada, a Dra. Ana Lisa está sempre disposta a me atender. Paciente (ou cliente?) da psicanálise, há muitos anos, tem suas vantagens e, evidente, nada como um bom motivo para conseguir "quebrar a resistência" e conseguir um encaixe na agenda.
Crise existencial, dúvidas sobre como e quando fazer; onde e com quem conversar sempre nos levam a esse mesmo lugar, ou seja, o lugar onde podemos conversar sem reserva (ou quase): o consultório do terapeuta.
- Será que vou deixar alguma coisa de bom nesta vida? - Foi minha pergunta, logo depois de um momento de indecisão, assim que me instalei sobre o divã.
- Bem, seu Dedé, essa é uma resposta que só mesmo o senhor pode saber, é difícil padronizar algum solução, faça uma reflexão.
- Sei...  - Enquanto pensava, tentei me ajeitar; meus pés sempre ficavam pra fora, talvez apressados para sair logo daquele lugar. Melhor acomodado, prossegui:
- Li, em algum lugar, que nós devemos sempre deixar um legado, uma referência.
- Entendo. O senhor está querendo dizer que a nossa passagem terrena deve ter um propósito, é isso?
- Isso mesmo doutora – e utilizei uma linguagem metafórica. - A vida não deve ser simplesmente uma página virada e em branco. A senhora já havia pensado nisso?
- Já sim, continue.
- Menos palavras e mais atitudes, exemplos, ações - completei. Às vezes acho que o medo ou, até mesmo, a preguiça impedem essa tomada de posição.
Silêncio. Por alguns segundos, que pareceram minutos, o consultório transformou-se em um santuário vazio, o silêncio era total.
- Essa é uma responsabilidade que todos deveríamos ter - enfim a doutora falou. - E isso só poderá ocorrer com uma abertura de consciência, 
- Ah! Falando assim, a senhora até me assusta, fica mais difícil o entendimento.
- Nada disso. Já que o senhor falou por analogia, talvez entenda melhor se continuarmos dessa forma. O carro nos foi entregue para que sejamos o condutor e não o passageiro. Para muitos, talvez seja até mais cômodo seguir a opção padrão e continuar a ser um dos passageiros, deixando que os outros determinem as coisas para nós.
- O carro, nesse caso, seria a vida?
- Certo. Engrenando a vontade, dirigindo as ações com responsabilidade, refreando ímpetos, podemos determinar um melhor rumo para nossas vidas.
Mais uma vez o silêncio se fez presente e, com ele, a imaginação, à procura do que eu poderia deixar como herança-referência,o que escrever naquelas páginas, até agora, em branco. Mas, rapidamente e como se estivesse lendo meu pensamento, a doutora veio em meu socorro:
- Se ainda está em branco, comece a escrever sua história, escreva no tal livro. Visualize a direção a tomar, reveja conceitos ou mude comportamentos, mas não esqueça de que, para cada atitude, haverá uma consequência a enfrentar, certo?
E antes que eu pudesse responder, ela encerrou a consulta perguntando em tom desafiador:
- Ou o senhor só sabe escovar os dentes com a escova na mão direita?

5 comentários:

  1. Então seu Dedé...
    Fazendo a analogia da vida com um livro, não há como deixar as páginas em branco. Afinal, cada ato do nosso dia a dia, desde que chegamos por aqui, está lá registrado. Sua historia já está registrada . Bem... Pelo menos até hoje. Amanhã será outra página. Usando a metáfora da Dra. Ana Lisa, seja condutor do carro da sua vida, mas permita-se, vez em quando, ser passageiro e apreciar a paisagem que Deus coloca no seu caminho... Ou nunca ouviu falar em ambidestros?
    Parabéns pelo texto.
    Um abraço

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  2. Só ficará em branco a página da história que você não quiser escrever. Pense nisso amigo.
    É a primeira vez que visito seu blog. Obrigado pela dica.
    Bom fim de semana e bom feriado.
    Paulo

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  3. Essa doutora, como sempre, é sensacional. No seu caso, amigo Dedé, o livro já está repleto de histórias exemplares. Não se preocupe. Grande abraço

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  4. Acredito sempre em escrever, mesmo com lápis e mal traçando linhas em favor do próximo acho que sempre é este o objetivo da nossa vida, uma vez que até uma planta deixa sua marca no mundo servindo de alimento a outros seres. Então, entendo que o objetivo maior é mesmo o de traçar nas paginas o nosso desejo, e só assim faremos a diferença neste pequeno mundo.
    Anselmo

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  5. No livro da vida, às vezes desejamos reescrever algumas páginas, arrancar outras, passar a borracha em certos trechos, aperfeiçoar outros...É isso aí, somos autores permanentemente insatisfeitos... mas o que realmente importa é persistir, continuar escrevendo e reescrevendo...o livro de nossa história...
    Quem sabe um dia cheguemos a um final feliz!!!
    Élida

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