- Ah, doutora Ana Lisa, é ao menos cômico, se não fosse
trágico, ouvir os brados desses envolvidos no chamado mensalão, alegando inocência.
Assim iniciei mais uma visita à minha terapeuta, a doutora
Ana Lisa, que já sabe o quanto me revoltam, me desequilibram, esses
acontecimentos onde a honestidade não é regra. Já estirado no divã há alguns minutos, eu não
parava de vociferar contra a situação atual, enquanto ela mantinha silêncio.
- O mesmo acontece com o esquema da máfia do ISS na Prefeitura
paulistana, eles alardeiam inocência – prossegui.
Aí, ela interveio:
- Mas são situações diferentes, seu Dedé.
- Diferentes no nome, mas no conteúdo são iguais. É a
corrupção à solta, é o dinheiro comprando tudo e todos – eu respondi.
- Acalme-se – disse ela, e completou: - Infelizmente na
política e na administração pública, isso parece ser uma tendência mundial.
- Pode ser doutora, é o sinal dos tempos como dizem, mas o
que nos interessa é o que acontece por aqui. Total descrença nos
homens que deveriam dar o melhor exemplo.
- Concordo.
- Tem mais, o tal de propinoduto, envolvendo multinacionais na
venda de trens e peças para o governo paulista. Outro exemplo da malversação do
dinheiro público.
- Sem dúvida, o senhor está mais do que certo. Mas, no que
diz respeito à terapia e ao paciente, há necessidade de se manter mais calmo,
mais tranqüilo, essas situações não podem e não devem interferir no seu
psicológico.
- Doutora, mas eles, todos eles, se dizem inocentes!
Inocentes? Inocente sou eu, inocentes são todos os cidadãos que insistem em
acreditar na classe política, uma classe desclassificada. Inocente sou eu, a
senhora, somos nós que confiamos em quem deveria cuidar da administração do
dinheiro público.
Respirei profundamente, me acomodei melhor, tentei relaxar.
De repente, ela disse em tom de revelação:
- Seu Dedé, se o senhor
acha que somos inocentes, talvez seja melhor, ingênuos, eu entendo que
encontrei os culpados.
- Culpados de quê, como assim, quem são?
- Somos nós também. Inocentes no sentido de neles acreditar, e
culpados porque, através do voto, colocamos essas pessoas nos cargos públicos, são
nossos representantes. Percebe? Os políticos estão lá porque foram eleitos, a
maioria deu o voto a eles. E eles indicam os auxiliares, os assessores e por aí
vai... Não pense que devemos, a partir disso, condenar a democracia. Os que usam o
cargo público em benefício próprio devem ser julgados e condenados pela justiça.
- Sábias palavras doutora. A senhora, com a competência que
lhe é peculiar, definiu a questão. Confesso que não tinha essa visão sobre o
assunto.
- Pense nisso, concluiu ela – encerrando nossa conversa.
Ao deixar o consultório, saí certo de que podemos ser, ao
mesmo tempo, inocentes e culpados, ao menos terapeuticamente falando... ...
Então seu Dedé...
ResponderExcluirConcordo, em parte, com a nossa doutora. Em parte porque concordo que o grande culpado é o povo que se ilude com falas fáceis, vende seu voto por qualquer merreca, aceita sem questionar qualquer cabresto. Mas digo em alto e bom som (ou letras se preferir) : Esta culpa não levarei para o túmulo. Nunca votei e jamais votarei no PT. Sempre me geraram uma certa desconfiança. E digo mais... Não adianta prender esses "curumins" se o "grande cacique" continuar livre, leve e solto. Não falo de agir com arbitrariedade, mas é necessário que se faça uma profunda investigação em toda a taba. "Duela a quem duela".
Um grande abraço
Agradecendo sua honrosa participação, meu prezado leitor anônimo, e igualmente pedindo "data venia", esclareço que a dra. Ana Lisa não opinou ideologicamente, mesmo porque, no texto, são citadas as falcatruas de outras legendas. A desclassificação é geral. Abração.
ExcluirÉ isso meu amigo. Tem razão. Quando se fala em "Taba" o assunto abrange outras legendas também. É tão ladrão quem rouba um tostão quanto quem rouba um milhão!
ExcluirEleitoralmente também, caro amigo Dedé...cadas. Essa Dra. Ana Lisa é fantástica.
ResponderExcluirFlávio, agradeço em nome da doutora Ana Lisa e concordo, ela é fantástica!!!
ExcluirAbração.
Ricardo, respeito sua opinião, mesmo não concordando com ela.
ExcluirEm tempo, seu comentário foi excluído, não por isso, mas por conter palavra de baixo calão e este, evidentemente, não é o propósito este espaço.
Ótima abordagem a respeito do reprovável comportamento da classe política brasileira.
ResponderExcluirAprecio sua forma apartidária, ou melhor dizendo, suprapartidária de tratar essa doença crônica que há tempos vem minando nossa sociedade, a corrupção. Nem poderia ser diferente. O poder parece mesmo corromper. E qual ala política estaria isenta? Somos bombardeados todos os dias por notícias envolvendo todas elas, quase sem exceção. Lamentavelmente.
Se somos culpados? De certa forma sim, também acho. Nós os elegemos. No entanto, lembre-se do círculo vicioso: o sistema educacional é falho, somos mal preparados e escolhemos inadequadamente. Nada se faz para formar seres "pensantes". Não lhes interessa. Assim, não vemos mudanças. Esperemos então que o STF faça seu papel e ajude a devolver a este castigado país um pouco de dignidade...