TERAPEUTICAMENTE CORRETO

- Olá seu Dedé, entre, tudo bem? Acomode-se no divã.

Enquanto ia me ajeitando, pensei com meus botões: Se estivesse tudo bem, eu não estaria alí... Mas fiquei só no pensamento e respondi:

- "Vivendo e aprendendo a jogar", doutora Ana Lisa. Fica difícil conviver com tantas desgraças, tragédias que acontecem à nossa volta, isso me entristece.

Em resposta, silêncio. – Prossegui:

- Os conflitos na Ucrânia, Iraque, Israel e Palestina chamam a atenção do mundo, imagens chocantes desse inegável absurdo que tira vidas humanas tal qual objetos descartáveis. Por aqui, a violência crescente, a falta de educação de boa parte das pessoas levando à odiosa discrimição, ao preconceito.

Ela interrompeu: 

- Compreendo sua indignação e chego mesmo a filosofar, pensando que a criação da raça humana não deu certo... Infelizmente, estamos vivendo uma época de transição de valores e é preciso que cada um procure fazer bem a sua parte.

Cada vez mais inquieto, perguntei:

- Mas doutora, por que a paz é tão difícil?

- Difícil dizer, seu Dedé. Entendo que nossas atitudes possam, sim, promover paz e esperança. Nos conflitos internacionais, é evidente que há os interesses econômicos ocultos, mas a resolução não deveria passar pelo derramamento do sangue de inocentes.

- Pois é, quem sabe aonde chegaremos com tanta intolerância e violência. Será impossível conviver com o “diferente”? Ou o lema é “o inimigo mora ao lado”?

- Perguntas que merecem uma reflexão, mas que poderão ficar sem nenhuma resposta - e sorrindo, acrescentou: - O que posso garantir é que nosso tempo, por hoje, terminou, sessão encerrada. 

Saí de lá bem melhor do que quando cheguei e com uma certeza que só fez bem: além dos conhecimentos inerentes à terapia, conheci o lado politicamente correto da doutora Ana Lisa.

(Ilustração: On-Line Consulting, Therapy & Psychoanalysis)