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A AUTOAJUDA, AJUDA?
Há uns três ou quatro minutos estava deitado, naquele já conhecido divã, na sala de minha terapeuta, a Dra. Ana Lisa. Ouvia-se, no som do silêncio, o tic-tac monótono do relógio, colocado estrategicamente na parede lateral esquerda, de onde ela podia, sem esforço, acompanhar o tempo da consulta. Aquele som, sempre precedia o início de nossas conversas.
- Sabe doutora, quando vinha pra cá minha cabeça estava cheia de assuntos, tantas novidades desde o nosso último encontro e, de repente, parece que tudo se foi, esqueci ou está travado, não encontro as palavras.
Disse isso e fiquei no aguardo de que ela comentasse alguma coisa, mas nada. Silêncio.
Continuei:
- Bem, já que preciso falar ... veja, por exemplo, esse negócio de autoajuda, autoisso, autoaquilo; trazem até fórmulas para o ser humano melhorar, progredir e até fazer fortuna. Mas só vai até aí, não?
Silêncio.
Prossegui:
- Trazer melhora financeira só mesmo para quem escreve, porque a maioria deles tem uma vendagem expressiva, tornam-se best-sellers - dei uma esticada nas pernas e continuei - Ah... sim, mas o que eu acho mesmo é que deve ser fácil falar, escrever e passar mensagens positivas e daí minha dúvida doutora. Será que todos esses autores realmente exemplificam o que dizem, será que essas pessoas, no cotidiano, agem da forma como ensinam nos livros?
Minha psicoterapeuta não resistiu:
- O seu pensamento tem lógica seu Dedé. Mas também entendo que só o fato das mensagens desses livros cumprirem o objetivo de provocar, digamos, um choque nas pessoas e elas, a partir disso, tentarem dar um novo enfoque às suas vidas, já tem um mérito... E mais, talvez para o leitor o que o escritor faz na vida pessoal pouco vai importar.
- Ah, doutora Ana Lisa, seria então alguma coisa parecida com “faça o que eu digo (escrevo) mas não faça o que eu faço?”
- Bingo! Essa é a realidade, é por aí que a humanidade caminha. “Não existe uma regra de ouro que se aplique a todos: todo homem tem que descobrir por si mesmo de que modo específico pode ser salvo”. Sabe de quem são essas palavras, seu Dedé?
- Não.
- Pois é, ninguém menos do que Sigmund Freud.
... ...
Ora – pensei - se o “pai da psicanálise” assim falou, nada mais precisaria ser dito ou conversado em nosso encontro de hoje.
Levantei ligeiro.
- Até a próxima – disse ela.
Saí e fechei a porta sem fazer barulho.
Oi Dedé!
ResponderExcluirQue saudades destes contos.
Adorei.
Um abração.
Vanessa Gomes